Sua memória não precisa ser instagramável
Certa vez, há mais de 10 anos, quando eu quis mudar meu visual platinando o cabelo, um cabeleireiro me disse: "platinar estraga muito o cabelo, mas fica bonito na foto". A frase nunca saiu da minha cabeça. Era ruim, mas era instagramável. Foi alí, muitos anos antes do termo instagramável existir, que eu percebi que minha memória não precisa ser instagramável.
Eu posso visitar um lugar sem tirar uma foto perfeita. Fotos "ruins" também servem de recordação. Quem não lembra das fotos dos anos 1980 onde alguém sempre saía cortado ou onde a decoração da festa era simples, mas todo mundo estava sorrindo? Não é preciso tirar foto de absolutamente tudo que fazemos, mas pode até ser legal fazer isso. O que eu questiono é a necessidade de editar a realidade ao ponto de torná-la perfeita apenas para uma plataforma virtual. A gente precisa mesmo instagramar a vida?
Veja, esse texto não pretende ser preciosista, negando o Instagram ou seu uso. Até por que esse texto está no Instagram, e essa escritora gosta do Instagram (mesmo tendo lá suas reservas). Só quero trazer uma reflexão aqui: a vida não precisa ser formatada para performar bem nesta ou naquela plataforma. A gente pode simplesmente comer um pedaço de bolo com o melhor amigo numa tarde chuvosa sem tirar a foto perfeita. Podemos tirar aquela foto boba, onde um aparece de boca cheia e o outro rindo de olho fechado e guarda-la como recordação de um momento que não volta mais. E que não foi para o Instagram.
As melhores memórias são transformadas em sentimentos, não apenas em fotos perfeitas. As melhores memórias são as vividas intensamente e não aquelas criadas para habitarem não-lugares efêmeros.
Sua memória não precisa ser instagramável.
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