Quando finalizei a leitura de "Gótico mexicano", de Silvia Moreno-Garcia, me lembro de que a única frase que me passava pela cabeça era "que livro fantástico!" Além de se passar no México dos anos 1950, o livro tem muitos elementos que caracterizam um bom gótico: mansão mal assombrada, mocinha destemida, vilão vampiresco e... Cogumelos.

    Noemi é uma jovem que foge de todos os esteriótipos da mulher dos anos 1950. Ambiciosa e independente, ela pretende cursar a faculdade e nem pensa em casamento, completamente diferente de sua prima mais velha, Catalina, que se casou há pouco tempo com o descendente de uma família inglesa conservadora, que anteriormente desfrutava de prestígio e dinheiro, mas que agora perece com o fechamento da mina de prata de propriedade da família. O pai de Noemi, tio e responsável por Catalina, recebe uma carta preocupante da sobrinha. Aparentemente ela corre perigo em High Place, mansão da família do marido. Ele decide, então, enviar Noemi para apurar os fatos.

    High Place é uma típica mansão vitoriana decadente, com muitos ornamentos que remetem a monarquia inglesa, telhados quebrados e janelas sujas. Além do mofo, que insiste em se espalhar pelas paredes da casa. Ali Noemi encontra Catalina muito doente, presa a sua cama, parecendo perder a vida a cada segundo. Sagaz, Noemi logo percebe que há algo errado com a família do marido de Catalina, sem deixar de notar que há algo ainda pior com a casa.

    A protagonista é muito bem construída. Debochada, inteligente e muito sagaz, Noemi analisa as situações com frieza e só então calcula os seus passos. Uma mocinha que não espera o prícinpe encantado para salvá-la.

    A ambientação de Silvia Moreno-Garcia é perfeita. Ela cria a atmosfera de uma casa assombrada com elementos não apenas descritivos, mas também com pesadelos, alucinações, sons e odores. Os diálogos são muito bem colocados, deixando o leitor preso e propositalmente confuso, até chegar no ponto alto da história. Silvia usa muitas referências do gótico, lembrando clássicos como Drácula e O morro dos ventos uivantes, para criar um clima sombrio, melancólico e cheio de mistérios. A autora também aborda temas sociais como xenofobia, racismo, misoginia e faz críticas contundentes a aspectos da sociedade mexicana tanto dos anos 1950 como nos dias atuais. A narrativa é muito fluida, e o leitura não fica arrastada em nenhum momento do livro.

    "Gótico mexicano" é um daqueles livros que a gente tem vontade de reler todo ano. Assim como grandes clássicos do gênero, a história fica com o leitor por muito tempo e seus personagens se tornam amigos.

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