Demorei quatro anos para escrever "Pássaro com olhos de fogo", meu primeiro livro. "A guardiã do crepúsculo", o segundo livro que escrevi, que acabou de ser lançado, levei apenas alguns poucos meses para escrever, mas mais de três anos para finalizar. Nos dois processos, durante esse tempo, longos hiatos me afastaram da escrita. Passei por muitas fases onde acreditava que não seria capaz de escrever um livro, de termiar uma história, ou de escrever "algo que preste". Em outros momentos, eu decidia que ia escrever "só de brincadeira", mas logo me via angustiada por que aquele trecho não estava "perfeito". O medo de conseguir e a necessidade de "perfeição"   me mantiveram cativa por longos anos.

    Escrever é uma jornada que a gente começa sem perceber que o caminho é o longo e o destino, incerto. É um misto de medo e alegria. E por ser jornada, e não corrida, a gente precisa aprender a continuar caminhando "apesar de". Apesar do medo, vou escrever só mais esta cena. Apenas da cobrança por perfeição, vou deixar para revisar só no final. Foi escrevendo uma palavra de cada vez que consegui terminar meu primeiro livro. E o segundo também.

    Com o tempo, aprendi a descansar. Não do ato de escrever, mas do medo da perfeição. Aprendi a respirar fundo e deixar a emoção passar. Tem fases que faço isso várias vezes enquanto escrevo. Aprendi a descansar também da cobrança da produtividade. Tem dias em que a escrita rende mais, em outros, nem chego a conseguir escrever. Aceito isso como parte da jornada, mas tenho a data limite de finalização do livro em mente, para não acabar cedendo para o medo e a perfeição.

    Escrever é jornada. É preciso se preparar para uma longa caminhada, não para uma corrida de meia hora. E, principalmente, é preciso caminhar. Esquecer o medo, a perfeição, a comparação, a dúvida, e caminhar uma palavra por dia, até que um dia a estrada mostra para onde estamos indo.

    Escrever é jornada. E é aí que está a magia de brincar com as palavras.

Texto #01 do Desafio 30 dias de escrita.