Dracul | O extraordinário terror gótico baseado nos manuscritos de Bram Stoker

by - maio 06, 2023

 


    Quando eu li "Drácula" pela primeira vez, no ano passado, não foi um livro que me impactou muito. Eu já conhecia a história, já tinha visto o filme e sabia que a linguagem de mais de cem anos atrás não me agradaria muito, mas a leitura era um projeto para a produção de um vídeo e eu fui até o final. Algumas semanas depois que publiquei o vídeo, um amigo me mandou um post sobre "Dracul", de Dacre Stoker e J. D. Barker, e eu fiquei muito interessada na premissa do livro que se baseava em manuscritos reais de Bram Stoker. E foi com a leitura de "Dracul" que "Drácula" se tornou um dos meus livros favoritos.

    "Dracul" conta a história da família Stoker baseada em manuscritos, cartas e diários de Bram Stoker, assim como em primeiras edições de "Drácula". A linguagem fluida e a ótima construção da narrativa, intercalando o fim e o começo da história até os dois momentos se encontrarem em uma das melhores cenas de terror que eu ja li, me prenderam do início ao fim. A história da vida (real?) de Bram Stoker e seus dois irmãos, Matilda e Thornley, falando sobre como possivelmente surgiu a história de Drácula me enfeitiçou, mas foi na "Nota dos autores", no final do livro que fiquei realmente fascinada. Quase tudo contado ali foi escrito por Bram Stoker em algum momento na vida e ele dizia que a história contada em "Drácula" era real. Foi seu editor em Londres que não permitiu que a história fosse vendida como verdadeira, pois os assassinatos de Whitechapel ainda espalhavam pânico na população e a idéia de um monstro milenar assombrando a Inglaterra seria motivo para pavor generalizado. Bram acabou aceitando publicar o livro como ficção, e 101 páginas do manuscrito original foram retiradas da edição inglesa final.

    Porém, as primeiras edições que foram publicadas em outros países europeus não foram editadas como a edição inglesa, e a mais fiel delas é a edição irlandesa, na qual os autores de "Dracul" basearam parte do livro. Os autores também tiveram acesso ao primeiro manuscrito de "Drácula", arrematado em um leilão por um magnata da tecnologia, que fez com que os dois assinassem termos de confidencialidade, garantindo que muito do que estava descrito ali nunca viria a público. Esta 'história por trás da história' me deixou simplesmente arrebatada.


Imagens dos manuscritos de Bram Stoker, presentes em "Dracul"

    Mas não são apenas essas equivalências que fazem "Dracul" valer cada linha. A história é muito bem montada, a linguagem é fluente e a leitura prende do início ao fim com todos os aspectos de um ótimo terror gótico: cenas assustadoras, suspense, noites enluaradas, névoa densa, carruagens e até um hospital psiquiátrico e um necrotério. Além disso, a trama ainda se encaixa perfeitamente no contexto de "Drácula", entrelaçando as duas histórias com maestria.

    Em "Dracul", porém, a misoginia e o conservadorismo - que apoia seus preconceitos em um ideal absurdo de virtude - existentes em "Drácula" se transformam. As personagens mulheres não são vistas como figuras frágeis, objetificadas e suscetíveis a cair na mão do diabo. Diferente disso, em "Dracul", são elas que trazem a salvação aos homens e a si própias. Inclusive, um dos homens mais virtuosos em "Drácula" ganha contornos humanos reais e mostra seus preconceitos abertamente, tornando-se em "Dracul" uma figura que todos preferem manter a distância.


A edição da Planeta está imperdível, com bordas vermelhas e capa em relevo.


    É importante apontar aqui que, apesar de ser baseada em diários de Bram, "Dracul" é considerado um livro de ficção e não uma biografia. Apesar disso, muitos personagens realmente existiram e algumas situações são comprovadamente reais. Os autores ainda trazem o contexto histórico da época com muita fidedignidade, mostrando, entre outros fatos, os estragos da crise famélica na Irlanda nos anos 1840, conehcida como 'a grande fome da Irlanda'.

    "Dracul" mostra que a primeira versão de "Drácula" seria muito ipactante para sua época, correndo o risco de ser censurado se tivesse sido publicado como Bram Stoker gostaria. O prefácio retirado da edição final aponta que Bram acreditava que a história contada em "Drácula" era real, e deixa uma intrigante curiosidade no leitor.

    Sem dúvida, "Dracul" é uma ótima recomendação para os amantes de contos de vampiros!

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