Dicionário de expressões (anti) racistas

by - março 05, 2023

Semana passada, em uma das aulas da faculdade (estou no último período de História), encontrei o "Dicionário de expressões (anti) racistas" criado pela Defensoria Pública do Estado da Bahia em 2021. A cartilha tem a intenção de promover a discussão e eliminar expressões que reproduzem o discurso racista e identificam a negritude com inferioridade social, afetando o bem estar de pessoas negras, transformando-se em "microagressões" que fazem parte do cotidiano da sociedade brasileira.

Expressões como: “Não sou tuas negas”; “Cor da pele”, “Serviço de Preto”; “ Cabelo Ruim”; “Preto de Alma Branca”; “Cor do pecado”; “Boçal”, “Denegrir”; “Mulata”; “Moreno”, “Nega Maluca”; “Pé na cozinha”, têm origem racista e reproduzem o racismo no imaginário social através do racismo linguístico. Essas expressões são consideradas não somente dispensáveis em nosso vocabulário, mas também de uso reprovável em uma sociedade que pretende ser mais justa. 

A falta de estudo das influências de línguas africanas na formação do nosso idioma, também é um exemplo desse racismo linguístico. Estes idiomas influenciaram não apenas com palavras usadas no cotidiano, mas também com formas de falar que hoje, frente a norma culta da língua, são consideradas incorretas. Nas línguas bantus, por exemplo, designa-se o plural no começo das palavras, mas quando dizemos "as menina" ou "os mano", marcando o plural apenas na primeira palavra, esse traço, característico de algumas populações negras no Brasil, é visto como um erro, porém é uma influência bantu explícita. Nossas escolas não abordam conteúdos linguísticos africanos, essa diversidade linguística é ignorada, mesmo a maioria da população brasileira sendo negra. Tal política de estudos da língua pode ser vista como um instrumento de apagamento da cultura negra na construção da nossa sociedade, resultando na colocação do negro em um papel inferior em relação ao branco.

O preconceito linguístico pode ser visto como uma manifestação do preconceito racial, pois existem variedades do português brasileiro que sofrem estigmatização, mas que continuam sendo utilizadas por diferentes grupos sociais ou têm heranças culturais, históricas e linguísticas destes grupos.

As palavras transmitem valores culturais e não deixam de ganhar sentidos negativos só por que não se teve a intenção. O português falado no Brasil foi construído sob forte influência do período de escravização e muitas dessas expressões seguem sendo usadas até hoje, o que mostra a importância de repensar o uso de palavras e expressões frutos dessa construção racista. O Dicionário elaborado pela Defensoria, contribui para a construção de uma identidade positiva das populações negras no Brasil e é fundamental para a mudança de mentalidade em relação ao racismo linguístico.

Aqui, o link para acessar o material:

Espero que o dicionário ajude você tanto quanto tem me ajudado!

You May Also Like

0 comentários