08 de Março | Dia Internacional da Mulher

by - março 08, 2023

O Dia Internacional da Mulher foi proposto por Clara Zetkin em 1910 no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, na Dinamarca. Após 1970 a data passou a ser associada a um incêndio que ocorreu em Nova Iorque em 1911. Sua origem é marcada por fortes movimentos de reivindicação política e por muita perseguição policial. O dia simboliza a busca de igualdade social entre homens e mulheres, onde as diferenças biológicas sejam respeitadas sem servir de pretexto para subordinar e inferiorizar a mulher.


As lutas operárias femininas

No final do século XIX e início do XX, estouravam diversas manifestações de trabalhadores por melhores salários, pela redução das jornadas exaustivas de trabalho (entre 12 e 14 horas diárias, por seis dias na semana) e pela proibição do trabalho infantil. Mas, até a década de 1960, a luta sindical nunca teve o objetivo de igualdade salarial entre homens e mulheres pelas mesmas tarefas. Defendia-se que as reivindicações das mulheres afetariam a luta geral, prejudicando a melhoria dos salários dos homens.

Junto a essas manifestações políticas, começou a construir-se uma nova consciência do papel da mulher na sociedade, e muitas militantes dedicaram suas vidas ao que posteriormente se tornou o movimento feminista. Uma delas era Clara Zetkin, alemã, membro do Partido Comunista Alemão, que ocupou o cargo de deputada em 1920, militava junto ao movimento operário e se dedicava à conscientização feminina. Inclusive, fundou a revista Igualdade, que circulou por 16 anos, entre 1891-1907. Ao participar do II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhagem, em 1910, Zetkin propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher sem definir uma data precisa. Porém, na América Latina é comum afirmar-se que ela teria proposto o dia 08 de março para lembrar operárias mortas em um incêndio em Nova Iorque em 1911, o que não aconteceu.

O incêndio

No último domingo de fevereiro de 1908, mulheres socialistas estadunidenses fizeram uma manifestação que chamaram de Dia da Mulher, reivindicando o direito ao voto e a melhores condições de trabalho. No ano seguinte, em Manhatan, o Dia da Mulher reuniu 2 mil pessoas.

Para desmobilizar o apelo das organizações e controlar a permanência dos trabalhadores e trabalhadoras, muitas fábricas trancavam as portas durante o expediente, cobriam relógios e controlavam a ida aos banheiros. Mesmo assim, as péssimas condições de vida e os baixíssimos salários incentivam manifestações em locais fechados ou na rua. Essa organização culminou em uma grande greve que durou cerca de 13 semanas em fevereiro de 1910.

No começo de 1911, pouco tinha sido alterado nas fábricas e as reivindicações recomeçaram, e as práticas de portas fechadas durante o expediente, relógios cobertos, longas jornadas de trabalho, repetiu-se. No sábado, 25 de Março de 1911, às 5 horas da tarde, quando todos trabalhavam, um grande incêndio começou na Triangle Shirtwaist Company devido á condição precária das instalações elétricas do prédio. A fábrica ocupava os três últimos andares de um edifício de dez andares, onde o chão e as divisórias eram de madeira, e havia grande quantidade de tecidos e retalhos, que fez o fogo se alastrar mais rapidamente. Na hora do incêndio, algumas portas da fábrica estavam fechadas. Fugindo do fogo, parte das trabalhadoras conseguiu chegar às escadas, descendo para a rua ou subindo para o telhado. Outras desceram pelo elevador. Mas quando a fumaça e o fogo se alastraram, a maioria pulou pelas janelas, para a morte. A Triangle empregava 600 trabalhadores, a maioria mulheres imigrantes judias e italianas, e 146 pessoas morreram, 125 mulheres e 21 homens.

A comoção foi imensa, e em 5 de abril houve um grande funeral coletivo que se transformou numa demonstração da força trabalhadora, onde mais de 100 mil pessoas compareceram, apesar da forte chuva que caía no dia. Todo o processo, desde a greve de 1909 até o incêndio em 1911, fortaleceu o reconhecimento dos sindicatos. O International Ladies Garment Workers Union, sindicado feminino de conotação socialista, se tornou o mais forte dos Estados Unidos naquele momento.

As lutas das trabalhadoras continuaram durante a primeira década do século XX por vários lugares do mundo. Em 1915, Alexandra Kollontai organizou uma reunião na Noruega contra a guerra, iniciada um ano antes, e no mesmo ano Clara Zetkin fez uma conferência sobre a mulher. E em 08 de março de 1917, trabalhadoras socialistas russas entraram em greve com o apoio de metalúrgicos. Posteriormente, Trotski apontaria que essa greve teria sido o primeiro momento da Revolução de Outubro. Porém, vale ressaltar que para Lenin, a política de massas deveria ser considerada mais importante que a luta das mulheres, criticando as posturas de Zetkin, sua colega, e Rosa Luxemburgo por seus trabalhos não abordarem exclusivamente a causa socialista.

08 de março

Na década de 1960, o 08 de março foi sendo constantemente escolhido como o dia comemorativo da mulher e se consagrou nas décadas seguintes. É muito provável que o sacrifício das trabalhadoras da Triangle tenha se incorporado ao imaginário coletivo da luta das mulheres, apesar de ter ocorrido no dia 25 de março. Também é provável que a data escolhida pelas trabalhadoras russas, 08 de março, tenha grande influência no reconhecimento da data. Mas o processo de instituição de um Dia Internacional da Mulher já vinha sendo abordado pelas socialistas americanas e europeias desde muito antes, sendo ratificado com a proposta de Clara Zetkin, em 1910, um ano antes do incêndio.

Após a Segunda Guerra, o anti-comunismo americano tentou apagar da história a origem socialista do 08 de março, propagando a tragédia do incêndio na Triangle como o estopim da luta feminina. Este apagamento diluiu o sentido original da data, adquirindo um caráter festivo e comercial, que nada evoca o espírito das manifestações sociais que a originaram.

08 de março não é um dia romântico. É um dia político.

You May Also Like

0 comentários