O Vilarejo, de Raphael Montes | Um ótimo gore nacional

by - junho 15, 2023

 



    Raphael Montes mais uma vez não prometeu muito, mas entregou tudo! "O vilarejo" é um livro de contos com o melhor do terror no estilo gore. Não fica devendo nada à grandes nomes como Stephen King. Todos os contos se passam no mesmo vilarejo, que é apresentado no prefacio e cuja localização é desconhecida.
    
    No prefácio e no posfácio, Raphael apresenta e fecha a história moldura do livro. Um história moldura é uma história que justifica a reunião de contos em um livro, como se ela emoldurasse esses contos, ligando-os uns aos outros. A história moldura de "O vilarejo", é bastante curiosa e tenta fazer parecer que as histórias contidas no livro são reais. No prefácio, Raphael se coloca como tradutor dos contos, e cita uma figura interessante: Uzzi Tuzii, um personagem do livro "Se um viajante numa noite de inverno", de Ítalo Calvino. Tuzii é apresentado no livro de Calvino como o único tradutor da língua cimeriana, já em "O vilarejo", além de tradutos da tal língua morta, ele aconselha Raphael a não traduzir os contos, deixando no ar a alusão à uma possível maldição. Raphael, ignorando o aviso, traduz os contos que o leitor está prestes a conhecer.

    Os contos tem nomes de demônios, que representam os sete pecados capitais: Asmodeus (luxúria), Belzebu (gula), Mammon (ganância), Belphegor (preguiça), Satan (ira), Leviathan (inveja) e Lúcifer (soberba), e revelam o que de pior existe no ser humano, culminando em cenas do melhor do estilo gore. Para quem não está familiarizado com o termo, gore é um subgênero do cinema de terror que traz representações gráficas de violência com muito sangue. Ou seja, mostra violência extrema, mas totalmente humana, sem origem sobrenatural. Em "O vilarejo", Montes mostra ao leitor que o ser humando é capaz das mais abomináveis formas de violência, com o melhor do gore, porém, nos contos as pessoas  são influenciadas por um demônio.


    O vilarejo retratado no livro, é um lugar inóspito, em uma parte gelada do mundo, castigado pela neve constante, onde os moradores precisam lidar com a escassez de alimentos e o isolamento. Fome e solidão são os conflitos principais do livro, presentes em todas as histórias. Para mim, Raphael usa tais elementos para construir seu argumento: enxergamos nos outros apenas o que somos e, por isso, culpamos os outros pelos nossos próprios pecados. Todas as histórias me pareceram trazer esta mesma moral.

    O livro é bem curto, com apenas 93 páginas magnificamente ilustradas por Marcelo Damm. As imagens ambientam as ações, parecido com o que acontece em graphic novels,  e os contos contèm poucas descrições, com uma narrativa mais direta, o que aumenta a atmosfera de horror. A edição da Suma, selo da Companhia das Letras, é realmente um belo exemplar para se ter na estante.

    Por se tratar de um livro curto, é possível ler em uma sentada, e leitores experientes podem terminá-lo em um dia, mas no meu caso levei quase cinco, devido ao teor assustador dos contos. Precisei de umas horas para me recuperar entre uma história e outra.

    Mais uma leitura que recomendo demais!

    Marina. 

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