A Quaresma é o período do ano que, na Igreja Católica, vai da quarta-feira de cinzas, após o carnaval, até a Páscoa. O período é uma espécie de preparação para Páscoa, quando Jesus ressuscitou. É comum as pessoas fazerem alguns jejuns durante esses quarenta dias, mas mais importante do que passar privações, é que o período seja um momento de reflexão e que o exemplo de Cristo nos ajude a passar por uma mudança interior. 

Há alguns anos a quaresma tem sido um período muito significativo na minha vida. Em 2019 fui a missa na quarta-feira de cinzas, depois de um longo tempo afastada das comemorações religiosas. Naquele ano, decidi fazer um "jejum" durante os 40 dias que antecedem a Páscoa. De lá pra cá, todo ano "jejuo" de alguma coisa. Na ocasião, também (re)adquiri o hábito de rezar com frequência. Essa conexão com minha espiritualidade, trouxe mais tranquilidade e paciência para minha vida (Deus sabe que eu preciso ser mais paciente 😂).

Este ano, decidi que meu jejum vai ser de celular e redes sociais. Escolhi desinstalar todas as redes sociais do meu celular durante a quaresma, diminuindo o tempo que uso o aparelho, só checando mensagens importantes pelo computador. Preciso de mais espaço mental livre para me dedicar a alguns projetos e focar no trabalho, e acho que vai me fazer bem ficar afastada por esse período.

Tenho sentido no meu coração que esse afastamento das redes também vai causar uma mudança interior, objetivo das privações da quaresma. Minha mente anda sendo dominada pela velocidade com que quantidades enormes de informações - muitas vezes parciais e/ou enganosas - chega, o que tem me causado um verdadeiro atordoamento. Também percebo que passo muito tempo "vagando" pelas redes sociais, sem que isso seja convertido em algum tempo de qualidade na minha vida. Mesmo quando vago para descansar, acabo me sentindo mais cansada. É como se durante boa parte do meu dia eu estivesse presa em um universo paralelo, onde sou bombardeada com informações descartáveis que me causam emoções diversas em períodos muito curtos de tempo. Tomando o Instagram como exemplo, em menos de um segundo eu vou de um vídeo fofo de gatinho - que me causa alegria - para um vídeo de um míssil atingindo uma cidade - que me causa medo -, para em seguida ir para uma foto de um produto de beleza - que me causa ansiedade. Esse looping eterno de emoções em microssegundos tem me deixado deprimida e ansiosa. Além disso, acho que ficar longe desses não-lugares vai me propiciar também trabalhar o famoso FOMO (Fear Of Missing Out).

Minha intenção não é sumir das redes sociais para sempre, tampouco deletar minhas contas, mas sim encontrar uma forma equilibrada de lidar com elas. Nesses quarenta dias vou deletar o Instagram, Facebook e Pinterest do meu celular, mas vou continuar checando mensagens e notificações importantes pelo computador. A ideia é não vagar pelas redes, rolando o feed indefinidamente. Eu trabalho com redes sociais, dependo delas para divulgar minha livraria e sou responsável pelos perfis do museu em que faço estágio, então sair totalmente não é uma opção. Mas sei que posso limitar o tempo de uso para o que é relevante para mim. Inicialmente, o jejum é apenas de quarenta dias, mas se eu me adaptar a este novo formato, talvez não reinstale os aplicativos. 

A Páscoa é minha data religiosa preferida, é quando minhas esperanças se renovam e sinto que um ciclo se fecha com a celebração do maior sacrifício de amor que a humanidade conhece. Volto no domingo de Páscoa, com um vídeo contando como foi esse processo!