Sobre uma escrita feminina

by - agosto 21, 2021



Há pouco tempo li "Um teto todo seu", de Virginia Woolf. Nele, Woolf fala sobre a escrita feminina, é um ensaio elaborado sobre a voz das mulheres na literatura, sobre como encontrar essa voz. Me surpreendeu quando a autora diz apreciar mais a escrita de Jane Austen à escrita de Charlotte Bronte. Para Woolf, Austen teve a coragem de falar sobre a vida das mulheres como uma mulher. Sobretudo teve a coragem de falar da vida das mulheres sem tentar parecer um homem.

Desde essa leitura, tenho tentado me aprofundar mais nas produções de Austen. Como não consigo ler seus livros até o final (o que seria assunto para um outro post), resolvi assitir os filmes baseados em sesu livros. Sabendo que uma adaptação cinematográfica não pode ser nem de longe comparada à literatura, ouso dizer que entendi o que encantou Woolf. Jane Austen fala sobre seu próprio universo, sem medo de parecer ridícula e sem nenhuma pretensão de parecer um autor homem.

É preciso acessar seus maiores medos para encontrar uma voz tão verdadeira. É preciso coragem para deixar essa voz falar tão alto a ponto de ser ouvida.

Pensando na minha própria escrita, eu sei que ainda não encontrei minha voz, tampouco tal coragem. Sempre me espelhei em uma escrita masculina, sempre busquei narrar um universo masculino. Pensando em "Frankenstein", um dos meus livros favoritos, sei que ainda preciso acessar algo interno que possa tornar minha escrita universal - e digo isso sem nenhuma afetação ou arrogância.

Na busca pela minha voz feminina, a produção cultural de mulheres que tiveram a coragem de escrever sobre e para outras mulheres cruza meu caminho constantemente. Acabo de ver o fabuloso "Mulherezinhas" e, mais uma vez percebo que me falta ainda um tanto de espaço, ou de prática, ou de ousadia, para ser eu mesma refletida completamente no meu texto, nos meus - ou seria nas minhas? - personagens.

Escrever é um pouco disso junto com muito de muitas outras coisas: ter a ousadia de se mostrar completamente genuína, totalmente vulnerável.

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